Radiologista do Sírio Libanês, autor de livros científicos, professor – e expert em bolsa de valores. O adendo, pouco comum na carreira de um médico, fez do paulistano Renato Sernik um especialista também em finanças. Prestes a lançar um livro sobre o assunto, ele divide a rotina na academia e consultórios com palestras para colegas interessados em saber um pouco mais sobre os meandros do mercado financeiro. “Infelizmente, a maioria dos médicos não sabe lidar com finanças”, sentencia Sernik, filho de bancário e que desde jovem aprendeu a planejar seus rendimentos e a transitar no árido terreno da especulação financeira. Professor do curso de finanças pessoais do Centro de Estudo Rafael de Barros, do Hospital das Clínicas da USP, Sernik prevê um 2014 ruim para as empresas do setor de saúde listadas em bolsa. “Trata-se de um segmento de mercado que depende de uma demanda doméstica aquecida”, avalia. “A perspectiva para este ano, contudo, é de um cenário adverso”. Mas o que traz mais risco para um profissional de medicina atualmente: abrir uma clínica em meio a uma concorrência acirrada ou investir no mercado financeiro? “Prefiro apostar na Ambev e Brasilfoods”, garante.
Médicos S.A – Médicos, em geral, não sabem lidar bem com investimentos?
Renato Sernik – Infelizmente, em sua maioria, não. Muitos abrem um consultório e somente irão perceber que estão tendo prejuízos depois de anos. Esta falta de percepção decorre também do perfil da maioria das pessoas que fazem medicina. De um modo geral, o médico trabalha muitas horas por dia, seja no consultório ou no hospital com plantões, e acaba não tendo tempo para se dedicar ao planejamento de sua vida profissional e financeira.
Médicos S.A – O que é mais arriscado atualmente, abrir um negócio na área de medicina ou investir na bolsa de valores?
Sernik – Se o objetivo, por exemplo, é abrir uma clínica radiológica generalista, num grande centro, onde haverá a concorrência de laboratórios e hospitais, com certeza não haverá êxito. É melhor ser empregado e dedicar parte de meu tempo no aprendizado e na atuação na bolsa de valores. A chance de retorno será maior.
Médicos S.A – Qual o erro mais comum de um investidor iniciante?
Sernik – A maioria dos investidores iniciantes quer ganhar muito dinheiro, em pouco tempo e sem correr riscos. No entanto, investimentos sem riscos levam muito tempo para dar rendimentos expressivos. Por isso, o investidor deve verificar em qual perfil ele se enquadra: conservador, agressivo ou especulador. O especulador, por exemplo, é o que gosta de grandes emoções e de correr riscos. Outro erro comum das pessoas que começam a aplicar suas economias é o de seguir fielmente as orientações do gerente do banco, que tem metas a cumprir e defende obviamente os interesse da empresa onde trabalha. Títulos do Tesouro Nacional (LFT, LTN, NTN-B), um excelente investimento atualmente, não são oferecidos, pois não trazem retorno algum aos bancos. Por isso, é preciso estudar e entender como funciona o mercado financeiro.
Médicos S.A – Quais as melhores apostas do Ibovespa em 2014?
Sernik – De acordo com economistas, o ano será difícil para o setor de serviços – a exemplo do mercado de saúde –, que depende de uma demanda doméstica aquecida. A perspectiva para 2014, contudo, é de um cenário adverso, com redução do crédito e aumento da taxa de juros (Selic). Exceto para as empresas cujos papéis se beneficiarão da Copa do Mundo, a exemplo da Cielo (CIEL3) e a Ambev (ABEV3). Tratam-se de boas apostas que apresentam um outro ponto positivo: são empresas que pagam bons dividendos. Outro aspecto a se considerar com a deterioração do cenário econômico brasileiro e com a redução dos incentivos monetários nos EUA é o aumento da cotação do dólar, o que beneficiará as empresas exportadoras. Assim, uma boa dica seria a compra de ações de empresas de papel e celulose (Suzano, Fibria) e de alimentos (Brasilfoods), em que boa parte de suas receitas se baseiam na exportação.
Médicos S.A – Qual o perfil dos seus investimentos?
Sernik – Atualmente, tenho 70% do meu patrimônio em renda fixa, dividido em fundos, títulos do tesouro nacional e debêntures de boas empresas. O restante (30%) está aplicado em ações de empresas exportadoras e as que pagam bons dividendos. Detalhe importante é verificar anualmente os resultados de suas aplicações e esperar pelo menos dois anos para realocar algum investimento de renda fixa, para pagar menos imposto.
Médicos S.A – A medicina já foi uma carreira mais estável?
Sernik – Sim, sem dúvida. Atualmente estamos à mercê dos planos de saúde. A remuneração por consultas, exames e procedimentos é aviltante. Além disso, muitas tabelas de honorários não têm sido respeitadas.